Bichectomia: Indicações e Riscos
- CIPLAST
- 10 de set. de 2018
- 4 min de leitura
Michael Hikaru Mikami
Stephany Bendas Beiro

O tecido adiposo da bochecha é muito abundante na criança e no indivíduo obeso. Além deste tecido adiposo, comparável ao encontrado em outras regiões do corpo, existe uma formação adiposa específica, a bola adiposa de Bichat.
Esta massa, muito desenvolvida na criança (por volta dos quatro anos de idade), e de tamanho constante no adulto e no idoso, localiza-se no espaço entre a face profunda da pele e a face externa do músculo bucinador (músculo que forma as bochechas e atua indiretamente na mastigação). Está compreendida, ainda, entre a borda anterior do músculo masseter (músculo que participa ativamente nos movimentos da mastigação) no lado de fora e o músculo bucinador do lado de dentro.

Sobre a bola adiposa de Bichat, transitam nervos (adjacentes ao ramo bucinador do nervo facial), artérias (ramos da artéria transversa da face que abraçam o ducto parotídeo de Stenon) e o ducto parotídeo (de Stenon). De baixo dela, encontramos, ainda, outros nervos (ramo vestibular do nervo temporobucal).
Este órgão de preenchimento está relacionado, primeiro com os movimentos de sucção do recém-nascido, e mastigação mais tarde, como indicado por seus prolongamentos posteriores, temporais e zigomáticos, que só se desenvolvem tempo depois que a criança começa a mastigar.
Devemos considerar, então, que a bola de Bichat corresponde a um órgão de deslizamento, adiposo ou seroso, como os encontrados nas articulações (bolsas serosas ou ligamentos adiposos).
Como é Realizada a Bichectomia
O acesso a região da bola de Bichat é realizado por uma pequena incisão na região interna da cavidade oral, visando facilitar o acesso ao plano profundo da face, minimizando riscos cirúrgicos e escondendo a cicatriz.
Indicações
O procedimento tem objetivo principal a redução de traumatismos mastigatórios, decorrentes do volume avantajado das estruturas anatômicas da bochecha em alguns indivíduos. O trauma, continuo e frequente, na mucosa oral pode ser prejudicial a tecidos bucais, sendo capazes de induzir a lesões patológicas diversas, inclusive neoplasias. Desta forma, as indicações cirúrgicas não são única e exclusivamente por motivos estéticos, sendo considerado um procedimento estético-funcional do sistema mastigatório.
O procedimento é desaconselhado para pacientes adolescentes e crianças uma vez que o processo de maturação corporal inclui a redefinição da face com modificação da simetria e medidas, e fora do peso ideal, ou seja, se o paciente deseja realizar o procedimento deve se apresentar em um peso que seja satisfatório para o mesmo, um peso que se pretende manter .
Outra contraindicação seria o rosto largo devido a hipertrofia do músculo masseter. Com a hipertrofia natural ou induzida do músculo, pode ocorrer um aumento de tamanho na região do ângulo da mandíbula, de tal modo que a Bichectomia não seria tão eficaz para resultados esperados.
Antes de realizar o procedimento, faz-se necessário que o paciente procure um especialista cirurgião plástico que realizem uma avaliação minuciosa.
Riscos da Cirurgia
“Uma regra sobre estética que eu aprendi é que deve-se ver com receio as cirurgias da moda” (Volney Pitombo)
Nos últimos anos, a cirurgia em questão viralizou entre os famosos e ganha cada vez mais adeptos devido seus resultados. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plastica, em 2016 mais de 7362 bichectomias foram realizadas, representando 0,5% do total das cirurgias estéticas do ano, enquanto em 2014 esse número era insignificante em termos de porcentagens estatísticas. Esse processo resultou em uma banalização do procedimento cirúrgico, negligenciando suas indicações e riscos.
A Bichectomia, apesar de parecer simples se comparada a outras cirurgias plásticas, envolve riscos, é irreversível e ocorre em local nobre (próximo de importantes glândulas, nervos e artérias) e tem indicações especificas, não se enquadrando em todos os casos e vontades pessoais.
Por se tratar de um procedimento cirúrgico os riscos de sangramento, hematomas e infecção estão presentes.
A bola de Bichat, por se apresentar entre os músculos bucinador e masseter, participando da mastigação, tem como função amortecer mecanicamente o esforço dos músculos, sendo que sua retirada pode causar um desgaste anatômico e falta de sustentação local a cada mastigação, de acordo com a hipótese do cirurgião de cabeça e pescoço da USP, Dr. Flavio Hojajj.
Outro risco da cirurgia é a lesão do Nervo Facial. Esse inerva e estimula os músculos da mastigação, bucinador e masseter. Com o nervo lesado o paciente pode perder o movimento do rosto de modo irreversível.
A retirada em excesso ou assimétrica da bola de gordura também pode acarretar em desarmonia facial, de modo que o profissional deve ser muito cuidadoso e observador crítico.
O processo de retirada da bola de Bichat se dá pela região interna da cavidade bucal para esconder eventuais cicatrizes, podendo assim lesionar também o ducto parotídeo, que é o canal de saída de boa parte da saliva. Ou seja, em mãos inexperientes e a lesão deste ducto, o líquido da parótida escaparia para locais inadequados, muitas vezes ficando represado, o que pode favorecer infecções e aumenta o tamanho da glândula, por armazenamento forçado de material.
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